Imagem: Ilustradora Viria
Era
sexta-feira 13, um dia repleto de lendas e superstições. Para
alguns esse é um dia de azar e cautela, mas não pra Katie. Aquela
sexta-feira 13 era seu nascimento. Acabaram-se as preliminares a vida
começa aqui, foi o que ela pensou ao abrir os olhos naquela manhã
quente de verão.
O
relógio marcava 07:00 da manhã e tudo parecia como de costume, o
sol brilhava intenso e castigava a cidade de São José dos Campos
com seu calor impiedoso, Katie pensava em como era possível que o
sol estivesse tão forte se eram apenas sete da manhã.
Tudo
estava como sempre, mas haviam sutis mudanças no universo que
passariam despercebidas a qualquer pessoa desatenta, mas não pra
ela. O sol brilhava sim, mas o brilho era diferente, como se o sol
quisesse doar seu brilho para ela naquele dia, como se os deuses a
estivesse ajudando e dando força.
Desde
que Katie e Alex voltaram a conversar, os dias dela passaram a
encher-se de expectativas e esperanças de que algo que lhe faltava
fosse preenchido. E aquele era o dia, aquela sexta-feira 13 seria
talvez a ultima chance que eles teriam de ficar juntos de verdade.
Ele viria para a cidade visitá-la e essa seria a primeira vez que se
veriam em mais de um ano. Ela não queria perder aquela chance e
tinha medo de que os dois estragassem tudo como da ultima vez que se
viram.
Com
os pensamentos meio atordoados, devido ao sono dificil e ancioso que
teve na noite anterior, Katie criou coragem e levantou-se da cama,
foi até o banheiro escovou os dentes e começou a se arrumar para
acompanhar seu amigo Oliver ao dentista. Era uma ótima forma de
passar o tempo e se distrair um pouco, pensou ela, afinal até as
sete da noite eram muitas horas, e Katie não estava nem um pouco
feliz com a ideia de ficar esperado sem fazer nada o dia todo.
Depois
de voltar do consultório do dentista, Oliver e Katie ficaram de
bobeira vendo vídeos na internet e jogando RPG. Oliver havia
convidado um garoto pra passar o fim de semana com eles, iriam fazer
uma “social de casais”. Katie sabia que o motivo daquele convite
era que Oliver não suportava a ideia de nunca ter um namorado
enquanto Katie estava sempre acompanhada ( não que Katie se
orgulhasse disso, mas não importava para Oliver), ele tinha
inveja dela e ela sabia disso, e mesmo não gostando dessa situação
Katie nunca dizia nada ao amigo.
Por
volta das 17:00 o par de Oliver chegou, seu nome era Max. Katie e
Oliver foram encontrar Max no ponto de ônibus para mostrar-lhe o
caminho até a casa de Oliver.
As
17:15 já estavam de volta a casa de Oliver assistindo vídeos de
terror e gameplays na internet. Eles conversaram e bateram papo por
algumas horas, Katie estava visivelmente ansiosa e nervosa, aquela
espera a estava consumindo.
Ela
pensava em todos as momentos e histórias que tinham para recordar. A
química entre eles sempre foi forte de mais para ser compreendida,
então eles apenas a sentiam. Desde que se conheceram algo aconteceu
dentro deles, demorou um pouco para ser desenvolvida e aflorada, e
mais ainda para ser aceita, mas naquela sexta-feira o sentimento
quase não cabia nela, era como se voltasse a ser uma adolescente
tola e insegura.
Katie
ficou presa em seus pensamentos em busca de conter a ansiedade de
encontrar o garoto que a havia esperado 5 anos de sua vida e que de
certa forma ela também havia esperado. Muito medo e insegurança lhe
percorriam a mente. E se a amizade deles tivesse acabado? E se eles
estivessem confundindo os sentimentos? E se ela estragasse tudo? Eram
tantos os sentimentos e expectativas que ela ficava confusa dentro de
si.
19:10
ela recebeu sua mensagem, “Cheguei”, nesse momento ela não
sentia frio na barriga, sentia uma verdadeira tempestade de neve
dentro dela. Ela vestia uma saia godê preta com estampa de marcas de
batom, como se alguém tivesse beijado a saia toda usando batom
vermelho, uma blusa regata rosa clarinha e uma sapatilha preta, os
cabelos estavam soltos levemente jogados para o lado esquerdo, usava
um brinco de coruja com uma pena longa. Por fora parecia calma e
tranquila, mas por dentro estava surpresa de ainda possuir o dom de
andar.
Enquanto
caminhava descendo a rua, ela pensava em quanto tempo eles não se
viam, no tempo que ficaram sem o contato um do outro e em tudo o que
havia acontecido no ultimo mês. As mãos estavam tremulas, o coração
batia rápido e forte, tão forte que pareia ameaçar fugir correndo
dali.
Katie
passou por uma choperia e uma lan House do bairro, passou pela
farmácia, uma locadora de filmes, e chegou ao final do quarteirão,
foi quando o viu...
Ela
não conseguiu conter o sorriso, tinha o riso frouxo, lembrou-se da
primeira vez que se beijaram a poucos metros dali, depois da aula.
Lembrou das conversas e risadas que dava com ele, e percebeu como era
forte o sentimento que sentia, mesmo depois de tanto tempo.
Ele
vestia uma camisa branca, calça jeans azul e um All Star, os óculos
eram praticamente como os últimos de que se recordava. Quando
finalmente pôde tocá-lo o abraçou e sentiu seu corpo estremecer-se
numa espécie de alivio, foi como se tivesse recuperado uma parte
dela que a muito lhe faltava, ela sentiu paz pela primeira vez em
meses e aquilo a fez quase chorar ali mesmo, no meio da rua.
Depois
de poucos minutos de conversa eles foram de volta para a casa de
Oliver. Chegando lá Katie parecia mais um robô, ela anciava que
Oliver calasse a boca para que ela pudesse finalmente beijar Alex,
como tinha sonhado no ultimo mês, e sendo sincera nos últimos anos.
Quando
isso finalmente aconteceu e Oliver apagou as luzes de seu quarto
excessivamente quente, Katie abraçou Alex com toda a força que
ainda lhe restava e chorou. Chorou de saudade, chorou de alegria,
chorou de medo. Ela sentiu-se tão completa como talvez nunca tivesse
sentido antes, sentiu como se não fosse capaz de esperar mais nem um
segundo para sentir seus corpos se tocarem novamente.
O
beijo tão esperado e urgente aconteceu ali, naquele quarto quente,
com outro casal se pegando na cama ao lado e nesse momento ela teve
mais uma certeza, dentre tantas outras que tivera até ali, aquela
era a única boca que ela queria beijar pelo resto de sua vida.